Anestesia dentária: tudo que você precisa saber

anestesia dentaria

A anestesia dentaria pode causar preocupação em algumas pessoas que estão prestes a fazer algum tratamento ou cirurgia. Mas não precisa ficar apreensivo, pois com um pouco de informação e o acompanhamento adequado do seu dentista, tudo deve ocorrer com a maior segurança antes, durante e depois do procedimento.

Respondemos neste post às dúvidas mais comuns dos pacientes sobre a anestesia para você ir mais tranquilo à consulta. Confira:

 

A importância da dor no organismo

Você sabia que a dor em si não é algo ruim? Ela serviu para garantir a sobrevivência da nossa espécie por todos esses anos.

Imagine tirar do forno uma travessa bem quente sem luva protetora nenhuma. Pense em você segurando-a por 5 minutos. Só de imaginar, já arde, não é?

Você consegue pensar em como ficaria o estado da sua mão se você, de fato, fizesse isso? Provavelmente, com queimaduras bem sérias e a necessidade de atendimento médico.

O fato de sentirmos a dor da queimadura faz com que tenhamos aquele reflexo de tirar rápido a mão quando sentimos o calor forte. É isso que nos protege de problemas mais sérios.

O mesmo acontece com qualquer outro tipo de dor. Se você torce o tornozelo, não conseguirá andar normalmente por causa da dor no pé. Isso evita que você cause um desgaste pior do osso e corra o risco de não poder andar mais, ou quem sabe ter que fazer uma amputação.

A vida antes da anestesia

A anestesia passou a ser usada na medicina só a partir do século XIX. Antes disso, as cirurgias eram realizadas com o paciente sentindo muita dor e era uma prática comum que a pessoa fosse segurada pelos ajudantes do médico, enquanto mordia algo para que não gritasse — um cenário terrível!

Após a cirurgia, o paciente recebia alguns analgésicos, muitas vezes feitos de um combinado de plantas e ervas medicinais. Desse modo, por não haver na época um estudo da dose correta, alguns chegavam a falecer por overdose desses medicamentos.

Os primeiros profissionais de saúde a usarem a anestesia foram dois dentistas norte-americanos. Em 1844, Horace Wells utilizou o óxido nitroso, um gás que além de deixar a pessoa imune à dor, causava uma grande euforia. Por outro lado, William Thomas Green Morton fez uso do éter e obteve muito sucesso também. Esse elemento era mais poderoso que o gás e oferecia menos riscos de asfixia.

Com o tempo, as substâncias anestésicas foram progredindo e ficando mais confiáveis. Mas tanto Wells quanto Morton foram essenciais para chegarmos ao que temos hoje.

Você já imaginou extrair um dente sem anestesia? Ainda bem que hoje os tempos são outros!

Como funciona a anestesia dentária

Para você entender bem o que a anestesia causa ao organismo humano, é necessário, antes, explicarmos como funciona o mecanismo da dor.

Todas as sensações que temos são resultados do que acontece em nosso cérebro. Os nossos bilhões de neurônios se conectam uns aos outros, ou a receptores, para passar informações, mensagens, estímulos e decodificá-los.

Dentre os receptores existentes, temos os nociceptores. São eles que enviam o sinal da percepção da dor, que é transmitido quando o estímulo tem a possibilidade de causar algum dano.

Esses receptores são ligados a nervos que percorrem todo o nosso corpo. Quando uma parte do corpo sofre um tipo de lesão, como uma queimadura ou aquela trombada na quina da mesa, as células nos nervos liberam prostaglandinas e leucotrienos, que fazem aumentar a sensibilidade dos nociceptores.

Ao manejar a dor, como por meio de um anestésico, inibe-se a percepção dela, diminuindo assim sua sensibilidade, e inibe-se também a transmissão de impulsos aos receptores.

O papel da anestesia é justamente o de impedir a passagem dos impulsos nervosos. O mecanismo de transmissão da dor é interrompido por ela. Há, nesse mecanismo, um bloqueio dos canais de sódio. Isso impede a despolarização neuronal, assim, a célula é mantida em estado de repouso.

A anestesia dentária, quando na forma de anestesia local, bloqueia apenas a condução nervosa onde é aplicada. Nesse caso, retira a sensibilidade da gengiva.

Já com a anestesia geral, a pessoa fica inconsciente. Maria Angela Tardelli, professora adjunta da disciplina de anestesiologia, dor e terapia intensiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coeditora da Revista Brasileira de Anestesiologia, explica que “são três engrenagens que devem funcionar juntas para o sucesso da anestesia geral: hipnose (não confunda com a técnica que induz ao transe), analgesia e relaxamento muscular”.

O profissional injeta na veia do paciente a medicação que induzirá ao sono. Depois, a pessoa recebe, via intravenosa na maioria das vezes, um anestésico. Depois, um relaxante muscular, que vai bloquear, de forma temporária, a passagem dos impulsos elétricos do nervo para o músculo.

Quais os tipos de anestesia mais utilizados por dentistas

As anestesias adotadas na clínica odontológica são, normalmente, de efeito apenas local. Mas existem alguns casos peculiares que demandam a geral. Entenda melhor:

Anestesia local

Há alguns tipos de anestesia local que os dentistas usam, como a anestesia por infiltração, bloqueio de campo, bloqueio de nervo e injeção sem agulha.

Elas são utilizadas para processos como cirurgia de siso, cirurgia de implante e remoção de cáries profundas. A escolha de cada uma dependerá da extensão do procedimento que será feito.

  • A anestesia por infiltração é feita por injeção sob a membrana mucosa ou o periósteo. Ela é escolhida quando o dentista precisará trabalhar em uma pequena região apenas.
  • A anestesia bloqueio de campo é depositada em ramos terminais maiores de um nervo. Isso significa que vai abranger um espaço um pouco maior do que a anestesia por infiltração.
  • A anestesia bloqueio de nervo é a que abrange uma área ainda maior. Sua aplicação é feita longe do local que será mexido, pois bloqueia o tronco nervoso principal da área.
  • A injeção sem agulha é uma técnica mais recente. Ela beneficia aqueles que têm muito medo da injeção normal, em especial as crianças. Dependendo do procedimento a ser realizado, dos exames do paciente e do seu histórico, pode ser aplicada em pacientes de qualquer idade.

Essa última técnica é feita por pressão de um jato, por meio de um orifício de 0,15 mm. O líquido penetra na mucosa e é, em seguida, pulverizado, sendo distribuído no local adequado. Esse novo procedimento apresenta tanta eficácia quanto o tradicional e é praticamente indolor. Porém, o tempo de duração é menor e, por isso, é usado em intervenções mais rápidas.

Anestesia geral

A anestesia geral não é muito frequente na odontologia. Ela permite que a pessoa durma em sono profundo, perca a consciência temporariamente, os reflexos do organismo e a sensibilidade.

Por atuar inibindo os reflexos musculares, é recomendado que o paciente esteja em jejum de no mínimo 6 horas. Isso porque se algum alimento entrar nas vias respiratórias, por exemplo, ele não vai conseguir expeli-lo — o que pode trazer riscos sérios aos pulmões.

A sedação pode ser feita via respiratória — por gases que você respira — ou intravenosa — que é a injeção na veia. Sua profundidade vai depender da quantidade do medicamento utilizado.

Os pacientes propensos a esse tipo de anestesia são aqueles que têm a possibilidade de não colaborarem durante a intervenção. Pessoas com problemas mentais, por exemplo, podem não entender que devem ficar deitadas e quietas e quererem se levantar na cadeira à força. Isso, além de dificultar o trabalho no dentista, pode colocá-las em risco.

Pacientes que tomam anestesia geral devem ter seus sinais vitais monitorados, como os batimentos cardíacos, a respiração e a pressão, durante todo o tempo.

Procedimentos que demandam anestesia dentária

Os tratamentos com expectativa de dor, como os cirúrgicos, são aqueles em que se aconselha anestesiar a pessoa.

Assim, se sua intenção for apenas uma consulta de rotina, como para fazer uma limpeza nos dentes ou clareamento, a anestesia não será necessária.

No entanto, se você tiver que fazer algo mais invasivo, como a retirada de sisos ou implante dentário, a anestesia será essencial para seu conforto. Sem o seu uso, seu corpo fica mais tenso e estressado, sentindo fortes incômodos, o que pode inviabilizar a continuação do procedimento.

Possíveis efeitos colaterais e riscos da anestesia

Os efeitos colaterais da anestesia local são poucos, alguns até raros, mas existem.

É comum que você sinta uma dormência na bochecha assim que sair do consultório e ela também pode ficar um pouco inchada. Por não ter a sensibilidade presente nesse momento, você pode não sentir quando toca nos seus lábios, por exemplo. Por isso, se você for tomar algum líquido em um copo, não vai senti-lo e poderá se molhar. Usar um canudo facilitará as coisas.

Algumas pessoas relatam também uma dormência nas pálpebras, o que pode causar certa dificuldade de piscar os olhos. Nesse caso, mantenha os olhos fechados para evitar o ressecamento.

No local em que foi inserida a agulha, pode ser percebido um inchaço com acúmulo de sangue (uma espécie de hematoma). Isso acontece se a agulha atingir um vaso sanguíneo no momento da aplicação, mas logo aquele sangue é reabsorvido. Ainda podem ser relatados efeitos como visão turva, espasmos musculares no rosto e sensação de pontadas ou agulhas na boca.

Assim que a anestesia for aplicada, você pode sentir aceleração dos batimentos cardíacos. O normal é que só dure uns 2 minutos, mas avise seu dentista de qualquer forma.

Danos aos nervos são bem raros de acontecer. Se a agulha pegar algum nervo, você sentirá dormência e dor, que poderão durar até alguns meses. Por isso, é importante procurar um profissional qualificado e de confiança para seu tratamento, pois o barato acaba saindo caro.

Já a anestesia geral pode causar vômitos, enjoo, tontura, dor de cabeça e alergias. Alguns pacientes também relatam amnésia minutos antes de serem anestesiados e fala arrastada por um tempo depois que acordam.

Em pacientes saudáveis, é bem difícil que aconteça uma complicação mais séria. Mas aqueles que já sofrem de algum problema do coração, pulmonar, renal ou hepático enfrentam alguns riscos a mais. Relate todas as suas condições atuais ao profissional.

As anestesias hoje em dia estão bem evoluídas e não apresentam mais os perigos que tinham antigamente. Criou-se um mito, e até certo receio, por causa de algumas histórias relatadas pela medicina. Porém, todos os estudos e toda a tecnologia envolvida colaboraram para que as grandes ameaças ficassem no passado.

O que devo saber antes da anestesia

É aconselhável que você faça uma consulta com o profissional antes do procedimento para tirar todas as suas dúvidas. Nesse encontro, o especialista poderá verificar seu histórico médico individual, como doenças, alergias, remédios que você toma no momento, etc.

Doenças que você teve na infância, como bronquite e asma, devem ser relatadas. Elas não necessariamente o impedirão de tomar anestesia, mas será uma atenção a mais para o dentista na hora. Alergias também são aspectos essenciais a serem verificados, pois uma possível alergia a qualquer componente da anestesia pode colocar em risco a sua vida.

Todos os medicamentos que você toma também devem ser relatados, inclusive antidepressivos, medicações que aumentam o desempenho sexual ou mesmo drogas ilícitas. Muitos deles podem interferir no resultado na anestesia, diminuindo sua eficácia ou, em algumas situações, ocasionando graves comprometimentos à circulação ou ao coração.

Se você fuma, também precisa relatar ao profissional, pois fumantes têm um risco maior de problemas cardiovasculares e respiratórios.

As gestantes também terão um cuidado especial. Elas podem se submeter a tratamentos odontológicos sim, mas, geralmente, a dose da substância anestésica será um pouco menor para não prejudicar o bebê. Além disso, o tipo de anestésico utilizado poderá ser diferente.

Pessoas que não podem ser anestesiadas

Qualquer tipo de problema de saúde que você tiver deverá ser comunicado ao profissional que realizará o procedimento. Assim, ele avalia o melhor a ser feito para que tudo ocorra da forma mais segura possível.

Alguns problemas merecem atenção especial, podendo até, em alguns casos, ser contraindicada a anestesia geral — pela possibilidade de choque anafilático, por exemplo.

Doenças cardíacas graves e hipertensão grave não tratada podem ser outros casos para a contraindicação.

Possibilidade de a anestesia não fazer efeito

Se você tiver uma inflamação no dente, é possível que a anestesia não faça efeito, ou faça bem pouco. Sendo assim, é importante primeiro resolver o problema para depois se submeter ao tratamento odontológico.

Há ainda algumas pessoas mais resistentes à anestesia local, não sentindo o efeito dela. Uma das condições que pode ocasionar isso é a Síndrome de Ehlers-Danlos, uma doença genética rara que leva a problemas no tecido conjuntivo e hipermobilidade das juntas (é conhecida popularmente como síndrome do homem elástico).

Segundo o pesquisador Alan Hakim, da University College Hospital de Londres, uma hipótese para explicar essa condição é que “o tecido desses pacientes é um pouco diferente do que das pessoas que não têm a síndrome, e isso poderia afetar a absorção das substâncias anestésicas”.

Há também uma condição chamada “inervação cruzada”, em que determinada região recebe ramos nervosos do lado oposto. Assim, será preciso reforçar a anestesia nesse outro lado também.

A validade do anestésico usado é outro fator que pode alterar o efeito. Por isso, é necessário realizar o tratamento em uma clínica confiável.

Dicas para o efeito da anestesia dentária passar mais rápido

  1. Fazer uma compressa morna: isso ajuda a ativar a circulação do sangue e, assim, a anestesia tende a durar menos.
  2. Massagear o rosto: faça uma massagem com a ponta dos dedos de forma bem leve, para não se machucar, próximo ao local que está sensível. Isso também aumenta a circulação sanguínea.
  3. Mastigar devagar: mastigue um alimento frio, como sorvete, açaí ou pedaços de fruta gelada com o lado oposto ao que foi anestesiado (para evitar mordidas na língua).
  4. Tomar água: o líquido contribuirá tanto para o aumento da circulação quanto para a produção de urina. Pois ao urinar, você elimina as toxinas do seu organismo.
  5. Pedir um medicamento ao dentista: se o dentista concordar, ele pode aplicar uma medicação para aumentar a circulação do sangue e, assim, o efeito passar logo.

Ficar com o rosto anestesiado por algumas horas depois da ida ao dentista pode ser realmente incômodo. Mas lembre-se de que passando o efeito da anestesia, você sentirá as dores do procedimento que foi realizado. Se você retirou um siso, por exemplo, terá um machucado ali em processo de cicatrização. O fato de ficar um tempo mexendo no mesmo local também o deixa dolorido.

Normalmente, a anestesia dura de 2 a 3 horas — em poucos casos dura mais do que isso —, então não precisa ficar muito ansioso para que o tempo passe logo. Apesar de a retirada de sisos ser um procedimento tranquilo, é um tipo de cirurgia. Aproveite para descansar bem e se resguardar!

Alguns cuidados após a anestesia dentária e extração dos sisos

É recomendado que você leve um acompanhante no dia, que o levará para casa após o procedimento. Mesmo que não seja usada a anestesia geral, não é bom que você dirija ou ande sozinho, pois, apesar de quase não haver reações mais sérias, a hipótese não é 100% descartada. Além disso, você provavelmente sairá um pouco indisposto, com o rosto inchado e talvez sentindo dor.

Cuidados após extrair o siso para evitar complicações:

  • Compressas de gelo nas primeiras horas ajudarão a diminuir o inchaço e as comidas geladas também serão ótimas. Evite comidas quentes logo nos primeiros dias, pois prejudicarão a cicatrização.
  • Tome as medicações recomendadas e não fume nem consuma bebidas alcoólicas. Pois o cigarro poderá causar infecções na cicatrização e o álcool poderá cortar o efeito do antibiótico.
  • Mantenha a boca bem higienizada. Passe com cuidado a escova de dente no local da cirurgia e faça bochechos para retirar restos de alimentos do local em que o dente foi tirado. Assim, você evita complicações após extrair o siso.
  • Volte ao dentista na data certa para retirar os pontos e verificar se a cicatrização está em ordem.

Quais os sintomas comuns após retirar o siso

Alguns sintomas são esperados, como:

Dores no local

Quando a anestesia vai parando de fazer efeito, é normal que você sinta dores, principalmente nos primeiros dias. Use o analgésico conforme receitado.

Observe também se está se formando alguma infecção no local. Se desconfiar disso ou notar a presença de pus, avise logo o seu dentista para que não prejudique seu pós-operatório.

Inchaço no rosto

O inchaço é comum também devido à intervenção, mas ele vai diminuindo com os dias. Siga a nossa recomendação sobre a compressa gelada no tópico anterior.

Dificuldade de abrir a boca

Isso pode acontecer devido ao inchaço e por ter ficado com a boca aberta durante muito tempo no procedimento. Assim, o músculo fica rígido e pode haver também dor na articulação da mandíbula — o nome que se dá a essa característica é trismo.

O dentista pode passar um relaxante muscular para melhorar.

Mau hálito

O mau hálito pode acontecer pela dificuldade de manter a higienização correta dos dentes nos primeiros dias, devido ao local estar dolorido. No começo há também mais dificuldade de abrir a boca e falar. Esses fatores aumentam a proliferação de bactérias causadoras do mau cheiro, mas tende a passar com os dias.

Dor na garganta, dor de cabeça, dor no ouvido

Por estar tudo muito próximo à região da boca, é possível que essas regiões sejam afetadas. Assim, verifique com o profissional uma medicação que não tenha interação com o antibiótico.

Sensação de dormência e formigamento

É também chamada de parestesia e é muito comum no primeiro momento. Mas fique atento, pois se durar alguns dias, é necessário consultar o profissional.

Caso sinta outros incômodos por tempo persistente, entre em contato com o seu dentista.

Retirar os sisos é, em muitos casos, imprescindível para que eles não interfiram no posicionamento dos outros dentes. O dentista avaliará isso por meio de radiografias e de forma clínica. Se o siso estiver causando dor, ou mesmo se o paciente desejar retirá-lo por uma questão estética para corrigir imperfeições ou impedir que os dentes fiquem apinhados, possivelmente a retirada será indicada.

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